domingo, 24 de julho de 2022

Eu abraço a escuridão que sempre se fez meu lar

 Quando não se tem muito daquilo que preenche seu coração, você se apega a pouco. 


Uma frase bacana depois de não entender o lugar que te colocaram, um “vou te ver na sexta”, um “vamos sair domingo”, um abraço da enfermeira, um chacoalhão na praia. 


Todas essas coisas, pequenas aos olhos de muitos, te traz esperança, e você se apega a quem minimamente tem um gesto cuidadoso. Porque isso é tudo que você precisa para se agarrar a algo que te faça continuar lutando.


O problema é, que muitas vezes, nada disso é realizado.  E, para quem não tem muito, a dor se torna maior. Para quem passou a vida sendo ensinado que não é merecedor, o não te dilacera. Um pouco mais do que o normal. 


E,  com o passar do tempo, você devia se acostumar. Você devia se proteger a ponto de não se importar. 


Bom, ao invés disso, você, sem a capa de super herói, somente a capa da invisibilidade (te amo, Harry Potter), desenvolve crises de ansiedade. Porque sabe que, o cuidado que precisa, não chega. 


O ar te falta. Você sabe que está sendo consumido. 


Voce sente os braços trêmulos, a perna bamba, os monstros embaixo da cama estão já nas suas entranhas. E você não consegue mais correr. Não sonha mais em morar na praia. 


Te falta forças para acreditar que será salva. 


“And have a little faith in me”



domingo, 17 de julho de 2022

Who knew?


Ok, vou tentar não fazer desse, um texto deprê.


Mas sou obrigada a dizer que tem sido meses difíceis. 


E eu fico tirando força naooseideonde para continuar lutando: minha saúde, meu emprego, meu amor próprio, minhas cicatrizes físicas, os enjoos, a fadiga, a solidão e a merda toda que tem consumido minha energia. 


E todo texto que faço, deixo claro que não tô pronta pra desistir, certo? Tão nobre. Tão exaustivo


A grande verdade é que tô cansada de lutar por coisas que não chegam, sabe? 


Nos últimos sete anos, eu passei por 12 cirurgias, 2 mutilações, incontáveis medos e não desisti. Fora todo o “resto”, porque this fucking life não te da um sossego. 


Não vou me eximir da responsabilidade, eu acabo permitindo certas coisas se repetirem, como deixar pessoas com frases bonitas se aproximar e me apunhalar, e mesmo assim, continuar.


Bom, esse texto é para escrever  o que hoje falei em voz alta, e o coração desacelerou depois que o fiz: eu estou exausta. Tenho que encontrar paz em deixar acontecer o que tem que acontecer, e se for para deixar a doença me consumir, so be it. 


Você deve estar pensando: que triste. Bom, pela primeira vez não estou triste com isso. A gente precisa de um descanso. A gente luta a vida toda, a gente acredita, e coisas continuam te consumindo negativamente, por mais que a gente se apegue a força interna, ao carinho de estranhos, a saudade do que não viveu ainda. 


Essa sou eu encontrando um meio de estar em paz se é assim que tem que ser.


A minha vida vai continuar tendo trilha sonora, isso não vai mudar, e se minha hora chegar, que seja com uma das minhas músicas. Que eu fume meu último cigarro, ou dê um trago na mari. Que eu tome uma Amarula, um whiskey e uma Heineken. Que eu veja o mar, Maresias dê preferência. Que eu abrace o céu e faça uma oração ao meu anjo da guarda. 


Que eu vá com a certeza que fiz meu melhor. 


E tá tudo bem. 



segunda-feira, 4 de julho de 2022

Yolanda - Carta aberta a V


Você só tinha 17 anos.


E já conhecia a maldade, o preconceito, a realidade dura de ser uma mãe solteira. De não ter também o amor que deveria ser o maior de todos, amor de mãe. Essa foi a história que foi contada. A veracidade disso? Who knows?


Aos 21, com uma filha nos braços, conheceu um rapaz que não podia ter filhos. Foi a junção perfeita, não?


Com isso, veio a tão sonhada riqueza que faz questão em exaltar. Não trouxe consigo a humildade, muito menos o amor que nunca recebeu, para dar a sua primogênita.


Permitiu as maiores atrocidades a uma criança: liberdade de brincar, de ser menina, de descobrir o mundo. No lugar de ser criança, foram cabelos raspados como inúmeros castigos, socos, abandonos, humilhações, competição, abusos psicológicos, meses trancada em casa sem colocar a carinha pra fora, ginecologistas para confirmar virgindade, surras de chicote aos seis. Tantas outras coisas capazes de mudar alguém para sempre: a mais pura forma de crueldade. Disfarçadas, muitas vezes, por presentes sempre inferiores, para que sempre pudesse brilhar mais, e mais. Pelo menos, perante aquela que podia controlar. 


Uma de tantas frases ditas por você, que ecoa na mente dessa menina: sempre serei eu (você) em primeiro lugar. Como um dos tantos castigos que a fez passar. Hoje ela sabe que era você. Mesmo sendo ele o protagonista de quase todas as torturas que a fez passar. 


A privou de tanta coisa, a partir do momento que ela veio ao mundo. 


Era só uma menina. 


Nunca saberá se, patologicamente, você é realmente uma narcisista. Só se sabe que você sugou grande parte das coisas boas desses anos, e embora não possa culpar ninguém pelo que ela permitiu acontecer a partir de sua vida adulta (mesmo sendo calada por ti até quando abusada por um médico), demorou muito a acreditar que era você a causa do câncer dela. 


A causa desse câncer é uma mulher vazia, inescrupulosa, dissimulada, maldosa, manipuladora e narcisista. E isso nada tem a ver com genética. 


Assim que o primeiro diagnóstico saiu, o amor foi sentido pela primeira vez, sabe? Foi a primeira vez que ela foi merecedora de carinho, cuidado, atenção. 


Mas com o tempo, viu que era apenas algo a se postar nas redes sociais: a mãe da filha com câncer. Mais um controle sobre ela. Mais atenção a você! 


Foram várias as tentativas de se libertar, e nunca havia conseguido fugir do seu controle: sua opinião sempre maldosa sobre todas as pessoas, sua intensa vontade de a ver sozinha, dependente de você, mostravam que havia algo errado, mas alguém que passa a vida toda escutando que a errada era ela, fica fácil duvidar de si e se deixar controlar, afinal quem mais resta?


E, graças a você, que em um ato de fúria, pois ela, com câncer, havia feito uma grande conquista em sua vida, se mostrou verdadeiramente. Ela nunca esquecerá o exato momento que o véu caiu dos seus olhos! O começo da liberdade foi ali: não aos 20, quando foi em busca de ser livre, e o foi, mas ainda sendo mantida sob controle em forma de “amor”. 

Foi quando, pela última vez, você tentou desmerecer a pessoa que, apesar de você e toda sua maldade, era merecedora de conquistas e coisas boas, cortou o cordão de vez. 


E, com o cair do véu, tudo que era colocado debaixo do tapete, veio a tona, e ela segue buscando a cura. Porque está LATENTE nela TUDO que a fez passar! 


Honestamente, ela não sabe se será curada. Cada célula de seu corpo expira vontade de viver. Apesar de você. 


A ela, resta desejar do fundo do coração, que você encontre paz. Que um dia olhe para si e busque ajuda, para tentar fazer o bem, ser o bem, exalar energias boas, toda aquela energia boa que você sugava, e sugava, e sugava, e ela sentia, bocejava, a drenava. E ela ainda sente, mesmo de longe, você ainda o faz! 


A ela, coube o papel de não ter um filho sem pai, de encerrar um ciclo de gerações marcadas pela dor e abandono, por mais que isso custe muito mais do que palavras possam dizer. A ela, coube o papel de tentar encontrar a paz que tanto preza. 


A ela, cabe a responsabilidade de transformar todo o mal que fez, em algo bom, da melhor maneira que encontrar. E perdoar. 


A luta agora é só dela e ela a faz sem você, apesar de você e longe de você, até o fim. 


Que esse amor transcenda! 

domingo, 3 de julho de 2022

Before I disappear whisper in my ear / Give me something to echo / In my unknown future’s ear



Cores, toques, aromas … sons. 


Eu não consigo enxergar vida sem som. A música sempre me guiou desde o início, sempre minha fiel amiga e companheira: nunca me abandonou. 


Seja dançando ridiculamente, seja ajudando a colocar a emoção para fora, qual for essa emoção!


Como quase oxigênio, me ensina a respirar sons que muitas vezes desconheço, embalando o medo em forma de poesia e me ajudando a abraçar os dias que chegam. 


Eu sou som. 


Eu sou o eco da vontade de viver que cala em meus ossos.



Eu sou o solo de guitarra que grita em meus pulmões.